A cidade

Chegamos ao ponto máximo de irritação. Não sei o que nos levou a isso, os barulhos que nos incomodavam agora são nossos melhores amigos. Antes as sirenes, as buzinas, os aviões... do que essa troca de gritos.



As luzes da cidade invadem o apartamento, a sombra dos nossos gestos nas paredes contam uma história de horror, mas estas mesmas paredes já testemunharam um romance.

A situação é sempre a mesma. E as regras sussurram em nossos ouvidos a solução, mas nós não queremos ficar sozinhos no meio da noite. Será que conseguimos dormir sentindo esse gosto amargo?

Sem os gritos mergulhamos nos sons externos. Tudo que nos livre do silêncio, quem poderá nos salvar desta noite? Gostaria que seu abraço ainda fosse um conforto.

O calor sufocante me leva a varanda, mas o ar poluído já não é mais o mesmo. Não a nada mais que me segure aqui, sigo em disparada pela rua. Eu quero sentir a cidade pulsar em mim, me encher de vida.

A cidade nos abriga, testemunha nossa história, no entanto, ela não poderia ligar menos para o nosso destino. Acho que nós também não ligamos mais.